quarta-feira, 23 de março de 2011

ALIMENTAÇÃO VIVA

Alimentação Viva
Por Alessandro Luiz Freire
 
Nos tempos mais remotos, as mais antigas civilizações, como por exemplo a dos Essênios, Africanos, dentre outras, não havia o uso do fogo, ou seja, eles não faziam o uso do fogo, não cozinhavam seus alimentos.
Estas civilizações ficaram conhecidas e são admiradas por causa da longevidade - a maioria deles viviam mais de 150 anos!
Outro fato interessante é que, estas pessoas, além de serem longevas, gozavam de uma saúde, vitalidade, disposição e aspecto jovial incomparáveis e, quando chegava a hora de seu desencarne (morte física), esta se dava naturalmente e não com sofrimento ou por doença (como ocorre comumente nos dias atuais).
 
Hoje esta alimentação é conhecida como "Alimentação Viva", "Alimentação biogênica" (que proporciona vitalidade, ou literalmente "que gera vida"), Alimentação Crudívora, "Raw food", e está sendo muito difundida principalmente nos EUA, em alguns países europeus (principalmente França) e algumas cidades Brasileiras como Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Florianópolis.
 
Os princípios são bem simples - nada é cozido - os alimentos até podem ser amornados, ou seja, aquecidos, mas sempre respeitando-se baixas temperaturas (nunca acima de 40 graus - alguns crudivoristas recomendam não ultrapassar a temperatura do corpo - 36 graus), e em panelas de barro (para que o aquecimento seja gradual), pois, o cozimento, o calor acima desta temperatura destrói as enzimas presentes nos alimentos e estas são essenciais para nosso organismo, desempenham inúmeras funções vitais.
Outro fato importante é que o cozimento destróe também as vitaminas.
 
Hoje em dia vemos muitas pessoas que estão constantemente doentes, sofrendo cada vez mais, visitando cada vez mais médicos, nutricionistas e tomando cada vez mais medicamentos.
Se formos analisar a dieta destas pessoas, constataremos que, em sua maioria constitui-se de alimentos industrializados (enlatados, pizzas, lazanhas, bolos, chocolates, doces, etc), chamados de "biocidas" (que destróem a vida - na classe dos alimentos), e vegetais cozidos, destituídos de vitaminas.
 
Outro fato importante é o uso dos chamados "agrotóxicos" (venenos), fertilizantes químicos e outras substâncias (em sua maioria carcinogênica, ou seja, que causam câncer), nas plantações, nos alimentos, daí a recomendação do consumo de produtos, alimentos que sejam cultivados sem venenos, ou seja, ORGÂNICOS - devidamente certificados.
 
Nós, brasileiros, apesar de sermos bombardeados pelas empresas de transgenia (transgênicos - organismos geneticamente modificados "OGM", que são causadores de graves distúrbios de saúde - comprovado cientificamente*), como a Monsanto, Bunge (dentre outras), e pelo cultivo convencional, com agrotóxicos (venenos) - sendo o Brasil um dos países que aplica a maior quantidade destes venenos no mundo, temos a bênção de possuirmos um grande território e variedade climática, e hoje, com a internet e a globalização, temos acesso a estas informações e aos produtos orgânicos, que estão se popularizando cada vez mais.
 
Tenho a esperança de que, um dia, em breve, muito breve, todas as pessoas possam desfrutar destes produtos e praticar a alimentação viva, biogênica e consumir alimentos orgânicos e serem mais saudáveis e felizes!...
 
*Recomendo o livro "Roleta Genética", de Jeffrey Smith (Editora João de Barro) e o DVD "O Mundo segundo a Monsanto", Marie-Monique Robin.

Alessandro Luiz Freire
É Fitoaromatólogo, Permacultor, Consultor e "Raw Personal Diet" (ensina a alimentação viva através de cursos e/ou consultorias particulares).
Maiores informações:
www.equipeharmonica.com.br
Contatos: (48) 32373714 / 99929818

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Leite materno é contaminado por agrotóxicos em MT, diz pesquisa

Leite materno é contaminado por agrotóxicos em MT, diz pesquisa
Segunda-feira, 21 de março de 2011 - 19h48       Última atualização, 21/03/2011 – 20h17
 
 
Uma pesquisa revelou contaminação do leite materno por agrotóxicos usados em plantações em uma cidade no Mato Grosso. As amostras foram colhidas de 62 mulheres atendidas pelo programa de saúde da família do município de Lucas do Rio Verda, a 350 km de Cuiabá. Os níveis de agrotóxicos encontrados estão bem acima da média e põem em risco a saúde humana.

Em 100% das amostras foi encontrado ao menos um tipo de agrotóxico e em 85% dos casos foram encontrados entre 2 e 6 tipos.

A substância com maior incidência é conhecida como DDE, um derivado de outro agrotóxico, DDDT, proibido pelo Governo Federal em 1998 por provocar infertilidade no homem e abortos espontâneos nas mulheres.

Embora os agrotóxicos sejam necessários para as plantações, não existe nenhuma barreira física que impeça o produto de se espalhar pela região com a ação do vento.

segunda-feira, 21 de março de 2011

ÓLEO ESSENCIAL DE HORTELÃ - ação antiulcerogênica da espécie Hyptis spicigera


ÓLEO ESSENCIAL DE HORTELÃ - ação antiulcerogênica da espécie Hyptis spicigera

Por Isabel Gardenal
Cerca de 10% da população mundial tem ou já enfrentou um quadro de úlcera péptica em algum momento da vida. Esta doença, que causa danos e desconforto ao estômago, acomete principalmente indivíduos com idade entre 30 e 70 anos, e seu desenvolvimento está deveras relacionado com a digestão alimentar. Isso quando há sobreposição de fatores que agridem a mucosa gástrica – ácido clorídrico e pepsina – em relação aos fatores que a protegem – muco e bicarbonato, por exemplo. A experimentação de um óleo essencial da espécie Hyptis spicigera (cujos nomes populares são catirina, hortelã, cheirosa ou cheirosa-de-espiga) pela bióloga Christiane Takayama dá indícios de que no futuro ele poderá ser uma opção acertada na área de fármacos, para amenizar a sintomática dos pacientes com úlcera.
Em sua dissertação de mestrado, apresentada ao Instituto de Biologia (IB), Takayama forneceu os resultados preliminares que deverão confirmar, após novos testes de toxicidade, mais detalhes sobre o óleo desta planta e essa propriedade farmacológica. Fato é que ele chegou a inibir praticamente em 100% a formação da lesão ulcerativa. A primeira contribuição da bióloga foi concluir – em modelos animais – que tal planta possui sim atividade antiulcerogênica. “Assim sendo, parte deste contingente da população mundial poderá ser contemplado com os benefícios desta pesquisa, depois que ela ultrapassar a fase de testes e adentrar a indústria farmacêutica”, prevê.
O trabalho da pesquisadora, orientado pela professora do IB Alba Regina Monteiro Souza Brito e desenvolvido entre 2008 e 2010, consistiu em avaliar os mecanismos desta atividade na base testada, a de 100 mg/kg. Ao se aumentar o muco gástrico, camada responsável por proteger o estômago contra o suco gástrico (que contém pepsina e ácido clorídrico, os quais maltratam a mucosa estomacal), ele conseguiu defender o órgão contra a formação de lesões ulcerativas, não somente reduzindo-as, mas também impedindo a sua formação. “Foi um resultado encorajador”, comemora. Segundo ela, não existia na literatura científica provas cabais dessas atividades. “O que havia era apenas indicação popular, contudo nenhum estudo comprobatório desse potencial do óleo.”
Takayama descobriu mais. Outro mecanismo encontrado foi o de atividade antioxidante, capaz de abrandar a formação de espécies reativas de oxigênio por mecanismo de transferência de hidrogênio. Esta atividade foi avaliada tanto in vitro quanto in vivo em ratos. Além disso, o óleo exibiu ainda um forte potencial de cicatrização, conseguindo reduzir praticamente em 90% a área da lesão de úlcera nos animais. Para que isso acontecesse, houve a elevação dos níveis dessas substâncias que promovem o processo de cicatrização, que são a COX-2 e o EGF (fator de crescimento epidermal). O óleo da Hyptis spicigera aumentou mais que duas vezes a produção do EGF. Mostrou-se que, na prática, elas interferem aumentando a proliferação celular e, por isso, estimulam a cicatrização na mucosa gástrica dos animais e, possivelmente, em humanos.
O estômago produz ácido clorídrico e outras substâncias que se encarregam do processo de digestão. O conteúdo desse órgão torna-se, portanto, mais ácido, podendo lesionar a parede do estômago, caso os mecanismos de proteção do estômago estejam reduzidos. De acordo com a bióloga, o estômago contém células produtoras do muco que recobre a parede estomacal. Junto com ele, a secreção de bicarbonato é outro fator protetor, por ajudar a neutralizar o ácido.
Pois bem, tais mecanismos de produção de muco são controlados graças à ação das prostaglandinas. Contudo, é sabido que determinados anti-inflamatórios as limitam, retirando a proteção do estômago e do duodeno. É por esta causa que muitas pessoas sentem dor quando tomam este tipo de medicamento ou derivados.
Óleos essenciais
Esse e outros estudos têm sido possibilitados e sustentados por uma grande aliada – a área de óleos essenciais, que está em franca expansão nos cinco continentes. Por terem um odor agradável, são empregados em geral na indústria de perfumes, sendo ainda adotados na indústria de cosméticos, produtos de limpeza e também no setor alimentício. Neste caso, ele apresenta uma marcada atividade antioxidante, de modo a reduzir as espécies reativas de oxigênio, os radicais livres, que agridem os tecidos e são protagonistas em sua degradação.
Os óleos essenciais são extraídos de partes de plantas, particularmente caule, folhas, raízes, flores, inflorescências, frutos ou sementes. São óleos voláteis (que evaporam mesmo em condições normais) e, em geral, aromáticos. Mais recentemente, muitas investigações reforçam suas atividades farmacológicas. Por este motivo foi que Takayama resolveu analisar este óleo essencial.
Conforme a pesquisadora, a matéria-prima do óleo é utilizada como indicação popular desde a Antiguidade. Os estudos científicos, porém, começaram a se intensificar mais a partir da década de 1980. Agora, a questão envolvendo o setor farmacológico e de atividade antioxidante são ainda recentes. Advêm da década de 1990. “Com a descoberta dessas atividades em óleos essenciais, as perspectivas futuras são as melhores, restando encontrar uma melhor maneira de administrá-los em seres humanos”, assinala a bióloga.
Quando trabalhava com os experimentos animais, ela colocou em prática, como forma de administração, um veículo a priori aplicável em animais: o tween. Por se tratar de um óleo essencial, uma substância lipofílica (aquela que não é solúvel em água), ele precisava apenas de um veículo que o solubilizasse. “O próximo passo será encontrar um jeito de fazer a sua administração em humanos por via oral”, revela Takayama.
Até o momento, acredita-se que o que pode render um melhor resultado é a produção de medicamentos em microcápsulas, trabalho hoje desenvolvido pelo professor do IB Marcos Salvador, que atua na área de Fisiologia Vegetal. Ele avalia a viabilidade dessa forma de administração, já que diversos outros medicamentos corroboram a sua aplicabilidade e eficácia.
Com certeza, acentua Takayama, mais investigações serão necessárias para apurar a toxicidade contida nesse óleo. No caso do presente estudo, a bióloga realizou um screening de doses, separando a mais efetiva, que foi aquela de 100 mg/kg. Analisou apenas dois, dos muitos, parâmetros toxicológicos – a evolução ponderal dos animais e órgãos vitais como o fígado, o coração, os pulmões e os rins. Pelas análises desenvolvidas até aqui, não foi verificado nenhum sinal de toxicidade, pelo menos não na dose estudada. A pesquisadora pontua que esses resultados fazem parte de testes pré-clínicos e que existe um longo caminho para se chegar à análise em humanos, que pode demorar algo em torno de cinco a dez anos, estima.
Características da Hyptis spicigera
O gênero Hyptis apresenta diversidade morfológica e é encontrado no Cerrado brasileiro, com cerca de 300 a 400 espécies registradas, segundo Harley (1988). Atualmente, é consenso que elas são eficazes no tratamento de infecções gastrointestinais, câimbras, dores e infecções da pele. Além do mais, possuem efeito anestésico, antiespasmódico, anti-inflamatório e abortivo. No caso de Hyptis spicigera, trata-se de uma erva daninha e aromática, uma espécie de hortelã, diferente da comumente usada para fazer chás e infusões. Tem como característica peculiar a inflorescência, que a diferencia das demais espécies de Hyptis.
A inflorescência, afirma Takayama, é a parte da planta onde se localizam as flores, descrita pela forma como se dispõem umas em relação as outras. Normalmente aparece como um prolongamento que se assemelha ao caule, provido de folhas modificadas chamadas brácteas. Nas axilas destas brácteas, localizam-se as flores. Muitas famílias botânicas, frisa, se distinguem facilmente pelo seu tipo de inflorescência. “Na verdade, ela integra um conjunto de flores, não apenas uma”, explica.
Na mata, logo se observa que ali existe essa planta, graças ao seu aroma característico. O óleo que Takayama trabalhou foi o comercial, encontrado em empresa produtora de óleos essenciais. A sua dissertação integra a linha de pesquisa Atividade Antiulcerogênica de Produtos Naturais, coordenada pela professora Alba Brito, que é ainda responsável pelas linhas sobre a colite e as inflamações.
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Publicação
Dissertação de Mestrado: “Determinação dos mecanismos antiulcerogênicos e antioxidantes do óleo essencial de Hyptis spicigera Lam., Lamiacceae”
Autora: Christiane Takayama
Orientadora: Alba Regina Monteiro Souza Brito
Unidade: Instituto de Biologia (IB)
Financiamento: Capes .

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PROJETO ALIMENTAÇÃO VIVA

PROJETO ALIMENTAÇÃO VIVA

ESCOLA MUNICIPAL BANHADÃO REALIZA OFICINA SOBRE ALIMENTAÇÃO VIVA


No dia 17 de Setembro, realizamos mais uma etapa do Projeto Alimentação Viva, que está sendo desenvolvido em nossa escola, e que faz parte do Projeto Escola Sustentável, que está sendo desenvolvido em toda a Rede Municipal e Estadual de Ensino do município de Presidente Castello Branco. Nesta etapa realizamos uma Oficina Técnica sobre Alimentação Viva, ministrada pelo Professor Alessandro Freire e a Engenheira Agrônoma Iara Reink. Estiveram presentes pais, alunos, comunidade, professoras de Educação Infantil e Ensino Fundamental, gestores e administradores municipais.

Este projeto objetiva qualidade de vida e saúde para todos, e pensando na importância deste tema, procuramos proporcionar aos educandos e a comunidade em geral, uma nova proposta alimentar, que vise qualidade de vida. A realização desta oficina foi muito importante para que esta proposta fosse conhecida e aos poucos introduzida em nossos hábitos alimentares.

Durante a oficina foram abordados os seguintes temas:


· Na primeira parte da oficina o Professor Alessandro explicou sobre os perigos do uso excessivo de alguns produtos industrializados e os prejuízos que os mesmos causam à nossa saúde.

· Em seguida conceituou alimentação viva, explicando como ela é, como podemos fazer uso da mesma em nosso dia-a-dia, e os benefícios dela para nossa saúde.

· Também explicou sobre os cuidados entre outras orientações importantes durante o preparo destes alimentos.

· Após foi realizado o preparo de algumas receitas como: Suco Vivo, Leites da Terra, Brigadeiro, Ricota Vegetal, Manjar dos Deuses. Utilizando legumes, frutas, sementes e verduras orgânicas e que são cultivadas na agricultura familiar.


Os presentes puderam participar da elaboração dos pratos, que depois foram degustados. Sem dúvida, neste tipo de alimentação é muito importante usarmos a criatividade no preparo dos pratos.


Os participantes gostaram da oficina, salientando que nada do que foi aprendido está distante de nossa realidade, claro que a introdução desta alimentação na vida das famílias acontecerá gradativamente, pois também trata-se de uma questão de hábitos.

Confira algumas fotos desta oficina.


















Sem dúvidas, a realização desta oficina foi um passo muito importante no projeto. Queremos agradecer a todos os participantes, administração, parceiros e colaboradores do projeto.
Ficou curioso? Quem quiser saber mais sobre Alimentação Viva, sobre a oficina realizada, e que queira conhecer algumas das receitas preparadas na oficina, fique de olho em nosso blog, nos próximos dias estaremos disponibilizando as receitas e os benefícios desta alimentação.

http://aprendendonaembanhadao.blogspot.com/2010_09_01_archive.html
          

sábado, 19 de março de 2011

Plantas e Alimentos Transgênicos

Plantas e Alimentos Transgênicos

Disponibilizo aqui, com muita satisfacao, um artigo que a Profa. Dra. Lenise Aparecida Martins Garcia. do Departamento de Biologia Celular da Universidade de Brasília (lgarcia@unb.br), membro do Grupo de Discussão EduTec, preparou, sobre plantas transgenicas, para ser divulgado a a todos os membros do Grupo e colocado no site, aqui nesta seção "Assuntos Paralelos", que busca forncer a professores e outros profissionais da educação informações importantes sobre assuntos da atualidade. 
É um artigo extremamente informativo, de enorme clareza, e muito sensato nas posições assumidas.
Depois do artigo há contribuições de outros membros do EduTec, que enviaram referência a artigos e sites em que o assunto é discutido.

PLANTAS TRANSGÊNICAS

Lenise Aparecida Martins Garcia
(*)

1. O que é um organismo transgênico?

Chamamos transgênicos (ou OGMs - organismos geneticamente modificados) aqueles organismos que adquiriram, pelo uso de técnicas modernas de Engenharia Genética, características de um outro organismo, algumas vezes bastante distante do ponto de vista evolutivo. Assim, o organismo transgênico apresenta modificações impossíveis de serem obtidas com técnicas de cruzamento tradicionais, como uma planta com gene de vaga-lume ou uma bactéria produtora de insulina humana.
A obtenção de transgênicos baseia-se no uso de uma série de técnicas que foram sendo desenvolvidas, com uma velocidade vertiginosa (semelhante à que estamos observando na Informática), a partir do  início da década de 70, quando pela primeira vez se obteve um organismo transgênico pela manipulação direta do DNA (uma bactéria com um gene de resistência a antibiótico de outra bactéria).
Não cabe aqui descrever essas técnicas, mesmo porque elas são muito variadas. Cada experimento, na verdade, é "desenhado" de acordo com as características do gene que se quer inserir, sua localização e muitos outros aspectos. Por isso se fala em "engenharia" genética, no sentido de que o pesquisador realiza um verdadeiro trabalho de "construção" gênica. Podemos hoje comprar, de firmas especializadas, plasmídios (pequenas estruturas de DNA que são usadas como vetores, transportadores dos genes) construídos com genes de 4 ou 5 organismos diferentes e mais um pedaço sintetizado em laboratório...
Não há dúvida de que estas técnicas chegaram para ficar, ao menos no que se refere à pesquisa científica, embora desde o início tenha havido grande polêmica sobre o seu uso. Além do trabalho de pesquisa pura, logo se detectou que elas tinham um imenso potencial biotecnológico, especialmente no chamado melhoramento genético, representando uma importante extensão das práticas agrícolas utilizadas há séculos, nos programas de cruzamentos clássicos que visavam a obtenção de espécies melhoradas.
A primeira planta transgênica foi obtida em 1983, com a incorporação de um DNA de bactéria. Já em 1992 um tomate transgênico obtido pela Calgene foi desregulamentado nos Estados Unidos e em 1994 estava sendo comercializado.

2. Riscos e benefícios

Um dos principais problemas com o risco relacionado aos transgênicos é exatamente a incerteza sobre quais são. Os que se colocam desfavoráveis à sua disseminação usam, como um dos principais argumentos, o fato de que não conhecemos todas as características dos organismos que estamos produzindo e portanto o seu possível efeito sobre a saúde humana e/ou o ambiente.
Em audiência pública na Câmara dos Deputados, afirmava a representante da SBPC:
É preciso deixar claro que somos favoráveis ao emprego das técnicas modernas para a manipulação genética de plantas e animais na busca de melhores condições de vida para a população brasileira. A nossa posição como cientistas responsáveis é estudar todas as alternativas para obter da técnica o máximo de resultados com os menores riscos possíveis.
Em geral, esses estudos incluem o monitoramento ambiental por órgão diferente da empresa interessada, com a verificação da possibilidade da transferência horizontal de genes (que a espécie transgênica transfira genes para outras espécies, em particular as nativas) e, no caso de o produto destinar-se à alimentação, a verificação de possíveis efeitos tóxicos, alergênicos e outros.
Quanto aos benefícios, podemos citar o desenvolvimento de espécies com características desejáveis, tais como maior resistência a pragas, maior teor protéico ou vitamínico, melhor adaptação a determinadas condições ambientais. Especial referência merecem produtos de uso farmacêutico, como a produção de hormônios e outras proteínas humanas por bactérias ou no leite de animais. Esses produtos, além de mais baratos, podem ser mais seguros; um exemplo inequívoco é o do fator VIII de coagulação sangüínea produzido por bactérias, que evita a sua obtenção a partir de sangue humano (prática que resultou na extensa contaminação de hemofílicos pelo vírus da AIDS nos anos 80).

3. Quem verifica os riscos?

Cada país determina, em sua legislação, como se dará a aprovação para testes em campo e para o uso comercial de OGM. Em geral, o parecer técnico é dado por uma comissão de Biossegurança, representada no caso brasileiro pela CTNBio.
Criada pela Lei 8.974 de janeiro de 1995 e regulamentada pelo decreto 1.752 de 20 de dezembro de 1995 a CTNBio é composta por 18 membros, assim distribuídos:
  • Oito especialistas em biotecnologia (dois da área humana, dois da área vegetal, dois da área animal e dois da área de saúde).
  • Um representante de cada um dos seguintes ministérios: Ciência e Tecnologia, Saúde, Meio Ambiente, Educação e Relações Exteriores.
  • Dois representantes do Ministério da Agricultura (um da área vegetal e um da área Animal).
  • Um representante de órgão de defesa do consumidor.
  • Um representante do setor empresarial.
  • Um representante de órgão de proteção à saúde do trabalhador.
Cabe à CTNBio avaliar e emitir parecer técnico conclusivo sobre as questões de biossegurança relacionadas a qualquer atividade que envolva OGMs, entendendo-se por biossegurança os riscos envolvidos na sua manipulação e liberação para o ambiente.
É importante ressaltar que a aprovação pela CTNBio é exclusivamente técnica e não envolve os fatores econômicos, políticos e outros que possam estar envolvidos na liberação de um determinado produto. Por esse e por outros motivos, o seu parecer é apenas parte do processo.
Além disso, como os produtos para os quais se deve solicitar liberação são muito variados, a CTNBio avalia caso a caso as solicitações que lhe são encaminhadas. Portanto não há pareceres genéricos sobre, por exemplo, "soja transgênica", mas sim sobre uma determinada linhagem de soja que tenha recebido um gene concreto com o uso de uma técnica também definida.

4. O caso específico da soja RoundUp Ready

Essa variedade de soja, desenvolvida pela internacional Monsanto, foi a primeira a ser analisada no Brasil para plantio e consumo, servindo portanto como um "balão de ensaio" para uma discussão que em outros países já se realiza há anos, com diferentes posturas.
O RoundUp (glifosato) é um herbicida comercializado pela Monsanto há mais de dez anos, sendo utilizado para controlar ervas daninhas em lavouras de soja e outras culturas. Devido ao seu largo espectro de atuação ele mata também a soja normal, o que faz com que só possa ser utilizado antes da germinação da semente.
A Monsanto alterou uma linhagem de soja pela introdução de um gene de bactéria que a torna resistente ao herbicida; essa soja transgênica foi denominada RoundUp Ready. O herbicida RoundUp pode ser aplicado em uma lavoura de soja RoundUp Ready após a germinação da semente, pois mata somente as ervas daninhas e não a soja.
Na análise do processo e em seu parecer final (altamente técnico, publicado no Diário Oficial em 01/10/1998) a CTNBio argumentou, entre outras coisas, que:
  • A soja é uma espécie proveniente da China, sem parentes silvestres sexualmente compatíveis no Brasil, o que faz com que seja muito improvável a transmissão do gene para outras plantas.
  • Existem no Brasil, pelo menos três espécies conhecidas de plantas daninhas que são naturalmente tolerantes ao herbicida glifosato.
  • A introdução do transgene não altera as características da composição química da soja. Esta conclusão de equivalência de composição química é baseada em avaliações realizadas através de metodologia científica, publicadas em revistas científicas indexadas e de circulação internacional. É importante registrar que, após a utilização da soja geneticamente modificada e de seus derivados na América do Sul, Central e do Norte, na Europa e na Ásia, não foi verificado um só caso de desenvolvimento de reações alérgicas em humanos que não fossem previamente alérgicos à soja convencional.
Com base nesses e outros argumentos, o parecer da CTNBio foi favorável à liberação do plantio da soja, obedecendo a algumas determinações, sendo a principal o monitoramento dos plantios comerciais por um período de cinco anos, com o objetivo de proceder a estudos comparados das espécies de plantas, insetos e microrganismos presentes nas lavouras. A verificação de eventuais alterações consideradas significativas para a biossegurança poderá resultar na suspensão imediata dos plantios comerciais. O documento detalha como deve ser feito esse monitoramento.
Entre os que argumentam contra essa liberação, com fundamentação científica (pois infelizmente há também muitos apaixonados que argumentam de modo um tanto "romântico"), nota-se principalmente a preocupação com os dados considerados insuficientes no que se refere à segurança, não especificamente com relação à soja RoundUp Ready, mas a OGMs em geral. Explicita, por exemplo, a Dra Glacy Zancan, vice-presidente da SBPC:
Desde que se iniciaram os estudos para a construção de espécies vegetais de interesse econômico, a comunidade científica alertou do pouco conhecimento que se tinha sobre a bioquímica e a genética vegetal para poder avaliar corretamente os riscos de cada uma das construções genéticas desenvolvidas. A rapidez da liberação das plantas transgênicas, nos Estados Unidos, chamou a atenção de que não estavam sendo considerados os riscos a longo prazo e que os testes e protocolos experimentais necessários à definição da segurança para o meio ambiente, para saúde humana e animal não estavam convenientemente detalhados. As dúvidas levantadas sobre cada caso têm aparecido permanentemente na literatura pertinente apontando para a necessidade de maiores estudos sobre as implicações do cultivo em larga escala de plantas alteradas geneticamente, via biotecnologia. É o problema de insetos resistentes a proteína toxica do Bacillus thuringensis (toxina Bt) incorporada no algodão seletivamente na folha. É a transferência de gene de resistência a um herbicida da canola para Brassica compestris, uma planta selvagem da mesma família. É o gene de resistência a um vírus, em uma abobrinha transgênica, transferido para uma erva daninha da mesma família. É o gene de trigo transgênico resistente a um herbicida transferido a Aegilops cylindrica. ... . Em nosso país, além das dúvidas gerais se acrescem aquelas decorrentes do desconhecimento da biodiversidade florística dos diferentes ecossistemas que compõem o país...Com relação ao meio ambiente um dos problemas levantados é a destruição da biodiversidade de insetos, com a quebra da cadeia alimentar de outros animais. É bom lembrar que só a floresta da Tijuca, no Rio, tem mais espécies de insetos do que os Estados Unidos.

5. "Complicadores" da discussão

Além das questões científicas, a discussão sobre a liberação da soja transgênica produzida pela Monsanto tem envolvido outros fatores, como os políticos e econômicos. Sem dúvida esses são aspectos que é importante considerar. Entretanto, penso que é importante não misturar os canais, ou seja, não tomar uma decisão política com argumentos (pseudo?) científicos. Além de não ser eticamente correto fazer isso, uma decisão desse tipo poderia no futuro prejudicar a liberação dos OGMs que estão sendo pesquisados no Brasil, que não são poucos. Muitos deles pesquisados com dinheiro público, nas Universidades ou em órgãos como a Embrapa.
Na argumentação político-econômica entram vários fatores, como o fato de ser a mesma firma que comercializa a semente de soja e o herbicida à qual ela é resistente, gerando uma dupla dependência. Outra questão é a aceitação ou não da soja modificada na Europa, que tem sido o maior foco de resistência aos transgênicos (por estar mais sensibilizada para as questões ambientais ou por estar mais atrasada na Biotecnologia? - este é outro ponto a considerar). Certamente, terá grande influência nos mercados o fato de alguns países plantarem transgênicos e outros não os plantarem ou não os comprarem.
No caso específico da soja RoundUp Ready, há também uma preocupação ambiental não diretamente ligada ao fato de se tratar de um OGM: sendo a soja resistente, pode haver um abuso na aplicação do herbicida, com os conseqüentes prejuízos para o ambiente.
Uma solicitação feita especialmente pelos que se preocupam com a defesa do consumidor é a rotulagem dos alimentos contendo material proveniente de OGM. Esse recurso, que vem sendo utilizado em alguns países, é a meu ver de não muita utilidade no Brasil. Que porcentagem de consumidores saberá o que significa "transgênico"? Conforme o assunto seja tratado pela mídia, pode significar "extremamente perigoso" ou "super moderno". Já estou vendo um personagem de telenovela alimentando-se com transgênicos...

6. O que concluir?

Não é fácil fazer uma opção. Por um lado, as novas técnicas e seus produtos mostram-se extremamente promissores. Por outro, é praticamente impossível ter certeza de que são inócuos. Toda a discussão em torno deste tema lembra-me a que está narrada em muitos livros, quando Oswaldo Cruz batalhou - com sucesso, afinal - para que a vacinação fosse instituída no Brasil. Uma boa parte da opinião pública rebelou-se, argumentando que não havia dados suficientes atestando a segurança dessa técnica (e era verdade!). Hoje não podemos negar que fizemos a opção correta (o que não quer dizer que o mesmo aconteça com relação aos OGMs).
Outro evento histórico que podemos recordar são as grandes navegações que deram origem a boa parte da distribuição atual das populações. Na época não se sabia, mas certamente foram os navios comerciais, carregados de ratos em seus porões, que disseminaram a peste em toda a Europa. Se as pessoas soubessem desse risco teriam, ainda assim, optado por realizar essas navegações?

7. A ponta de um iceberg

A discussão sobre as plantas transgênicas, embora muito importante, está longe de ser a maior discussão a ser travada no campo da Biotecnologia. Mais sérios e ainda mais polêmicos são os problemas que envolvem diretamente o ser humano, como a possibilidade de clonagem e/ou manipulação genética do embrião, escolha do que tenho chamado "bebês à la carte", possibilidades de eugenia e de discriminação em função do genoma e muitos outros temas que ainda aguardam uma regulamentação adequada.

8. Para aprofundar no tema

Algumas referências para quem quiser ir mais a fundo:
Há uma ampla discussão acontecendo há meses, com participações bastante técnicas e outras mais acessíveis, em um fórum no site da SBPC http://www.sbpcnet.org.br/forum8/forum8.htm. Além de muita documentação, encontram-se ali todos os tipos de opinião possíveis sobre esse assunto.
No site da própria Monsanto http://www.roundupready.com/soybeans/ estão explicações sobre o modo como foi obtida a soja transgênica, testes de biossegurança e, naturalmente, bastante marketing.
Explicações sobre as técnicas utilizadas em Engenharia Genética, usos atuais e possíveis e problemas éticos estarão em breve no site Educação e Ciência on-line http://www.universidadevirtual.br/ciencias/index.htm. O trabalho foi desenvolvido por um grupo de estudantes de Ensino Médio, sob minha coordenação, e está em linguagem bastante acessível.

(*) Autora:

Dra Lenise Aparecida Martins GarciaDepartamento de Biologia Celular
Universidade de Brasília
lgarcia@unb.br


Contribuições de outros membros do EduTec:
Ana Maria Tebar (anatebar@netway.com.br), de São Paulo, sugere os seguintes artigos e URLs:
  • Artigo de Jeremy Rifkin, "Novos alimentos podem criar 'poluição genética' - Cientistas indagam-se sobre os efeitos das plantações de produtos geneticamente alterados", publicado no Estado de São Paulo de 6/6/1999
  • Reportagem de Marcelo Ferroni, "Semente modificada geneticamente pode ajudar a combater a anemia em países em desenvolvimento: Arroz turbinado", publicada na Folha de S. Paulo de 6/6/1999, URL: http://www.uol.com.br/fsp/ciencia/fe06069902.htm. [Marcelo Ferroni é da reportagem da Folha em São Paulo]
  • Reportagem no Estado de São Paulo de 8/6/1999, com o seguinte título: "Recusa aos transgênicos pode trazer ganhos. Especialista argumenta que Brasil poderia ser exportador privilegiado de soja tradicional para a UE", no URL:  
  • Artigo de Laymert Garcia dos Santos, "Biotecnologia e virtualização de recursos: Somos o país de maior megadiversidade; a questão da apropriação dos recursos genéticos do Brasil torna-se central", publicado na Folha de S. Paulo de 8/6/1999, na URL http://www.uol.com.br/fsp/opiniao/fz08069909.htm. [Laymert Garcia dos Santos, 50, sociólogo, doutor em ciências da informação pela Universidade de Paris 7, é professor livre-docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, presidente da Comissão Pró-Yanomami e autor de "Tempo de Ensaio" (Companhia das Letras), entre outras obras]

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Orgânicos podem alimentar o Mundo !!!

Orgânicos podem alimentar o Mundo !!!
Seguem textos para auxiliar na implantação do Paradigma Orgânico.

            Um novo estudo da Universidade de Michigan indica que a agricultura orgânica é mais produtiva que a agricultura industrial química. Pesquisadores mostram exemplos de estudos prévios que corroboram o fato que a agricultura orgânica é melhor que a convencional, mas assinalam que estudos financiados por produtores químicos nublaram o entendimento do público sobre o assunto.
O agronegócio corporativo passou décadas repetindo o mantra que a agricultura química intensiva é necessária para alimentar o mundo. Mas de acordo com a pesquisa "estimativas indicam que os métodos orgânicos podem produzir alimento suficiente para sustentar a atual população humana, e potencialmente até uma maior população, sem aumento da área agricultável. "
Fonte: http://www.ecoalime nta.com/es/ viewer.php? IDN=597 (11/07/2007) ._

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Resposta de um colega sobre uso de veneno (Paraquat Dicloreto) em alimentos

Olá Alessandro,
Paraquat Dicloreto é um herbicida largamente utilizado para controle de ervas invasoras no cultivo de vários alimentos:
Liberado pelo MAPA - Misitério da gricultura para: Futíferas ( citrus, uva, abacaxi, banana, pêra, abacate, maça, cacau, coco), Café, cana de açucar, Oliva, batata, arroz, milho, soja e feijão, e couve.

No mercado possui os seguintes nomes: Gramoxil, gramoxone 200, pramato, Smash.

Classe toxicológica: 2 altamente tóxica.
O período de carêcia entre a aplicação e o consumo é o seguinte na maioria das vezes desrespeitado:
140 dias citrus
110 dias uva
120 dias café
30 dias cana de açucar
150 dias soja
7 dias banana

Caso inalado ou ingerido: provoca, dores de cabeça pronunciadas, tremores, cólicas, diarréia, proteinuria, oliguria, anuria, dispinéia acentuada, dificuldade respirátória, e morte por fibrose e parenquimatize pulmonar.
Na maioria dos casos de agricultores que chegam a hospitais ou postos de saúde com esses sintomas volta pra casa com uma caixa de faixa preta pra tomar pois os médicos na maioria das vezes nem cojitam intoxicação por uso de agrotóxicos, pelo menos por aqui.
 

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Estrogênios poderiam explicar infertilidade masculina

Revista  “FOCUS”, semanário alemão de 14 de fevereiro de 1994.

http://www.nossofut uroroubado. com.br/old/ castracao. htm

Seção – Pesquisa e Tecnologia  

Hormônios  

  Estrogênios ambientais podem ser causa de infertilidade masculina e câncer.
S.Sanides/R. Degen/W.Obelin
Os guardas florestais ficaram surpresos que, num lago contaminado com agrotóxicos na Flórida, os jacarés machos, cada vez mais freqüentemente, eclodiam dos ovos com seus falos menores do que o normal.               
John Sumpter, biólogo da Universidade de Brunel, em Uxbridge/Inglaterra , colocou três gaiolas com peixes, durante três semanas, nos desaguadouros de trinta estações de tratamento de esgotos. Imediatamente os machos ficaram estéreis. Ao mesmo tempo, as concentrações da proteína Vitelogenina, em seu sangue, subiram a níveis que só as fêmeas alcançam quando suas ovas estão em sua fase de maturação.
   Indícios adicionais para uma feminização silenciosa foram detectados pelo médico dinamarquês Niels Skakkebaek, da Universidade de Copenhagen. Recentemente publicou estes dados, para discussão, na revista médica “The Lancet”. Desde 1940 o número de espermatozóides por mililitro cúbico de sêmen dos homens, reduziu-se à metade. Concomitantemente, avolumaram-se os casos de canceres testiculares e as deformidades dos órgãos genitais.
Estes fenômenos, segundo Skakkebaek, têm o mesmo motivo: os homens e os animais machos estão expostos a níveis nunca antes existentes de substâncias que se assemelham a hormônios sexuais femininos. “A sexualidade masculina se afoga num mar de estrogênios artificiais”, diz Skakkebaek. Nossos organismos estão inundados de venenos ambientais, medicamentos e produtos alimentícios.
Medicamentos: de acordo com Skakkebaek, uma parte dos estrogênios ambientais provém das pílulas anticoncepcionais e dos medicamentos hormonais para menopausa, ambos excretos pela urina das mulheres. Estes estrógenos eliminados pela urina não são totalmente decompostos nas estações de tratamento de esgotos. Sumpter pode comprovar a existência de hormônios de pílulas anticoncepcionais nas experiências com peixes em águas de despejos de esgotos.
Venenos ambientais: não só os estrogênios do corpo das mulheres aumentam as suspeitas. Entre estes estão sobremaneira, os assim chamados xenoestrogênios. “Uma quantidade espantosamente elevada de substâncias com as quais contaminamos nosso ambiente, funciona como estrogênio”, conforme constatou Dr. Richard Sharpe do Centro de Medicina Reprodutiva, em Edimburg, na Escócia.
Nesta categoria estão muitos agrotóxicos como o Endosulfan, o DDT, o Dieldrin (nt.: todos organoclorados) e seus produtos de degradação ou metabólitos, as dioxinas e os PCBs (policloretos bifenilos), conhecidos aditivos empregados em fluidos hidráulicos (nt.: e transformadores elétricos), em plastificantes e amaciantes de plásticos. Muitas destas moléculas decompõem-se lentamente. De acordo com declarações de Sharpe e Skakkebaek, em janeiro deste ano (nt.: 1994), numa conferência em Washington/USA, estes estrogênios artificiais poderiam ser os responsáveis pelo número crescente de canceres testiculares que triplicaram na Europa e nos USA.    
A habilidade destas substâncias sintéticas de imitar o comportamento dos estrogênios, surpreendeu até os profissionais mais experientes. Normalmente os hormônios naturais têm suas funções bem específicas ,induzem reações bioquímicas ao se encaixarem com precisão nos receptores protêicos presentes nas células. Embora os estrogênios artificiais em sua estrutura química sejam, muitas vezes, bastante diferentes dos estrógenos naturais, conseguem se conectar aos receptores correspondentes e sinalizarem reações “feminizantes” para o corpo. Ratos machos tratados com dioxina comportaram- se como fêmeas em cio.
Destacadamente o lúpulo e a soja contém grandes quantidades de fitoestrogênios, hormônios vegetais naturais.               
Sharpe suspeita que os estrogênios ambientais já exerçam sua ação insidiosa mimetizadora desde o útero materno quando perturbam o perfeito desenvolvimento dos órgãos genitais do feto. De fato, meninos nascem, cada vez mais, com testículos deformados. Da mesma forma, vem aumentando o número de homens inférteis.
                Já se sabe uma maneira como os estrógenos artificiais prejudicam o feto no útero materno a partir de experiências feitas, na década de setenta, com o hormônio sintético DES (dietilestilbestrol ). Foi prescrito para mulheres grávidas a fim de evitar o aborto. Foi uma medida de precaução que gerou conseqüências desastrosas. Os filhos produziam menos espermatozóides e as filhas apresentavam deformidades em seus aparelhos genitais e além de padecerem mais de câncer de mama.  
                Estudos confirmam que níveis elevados de hormônios estrogênicos do próprio corpo, ao longo da vida, já são fatores de risco com relação ao câncer de mama, puberdade precoce, menopausa tardia ou incapacidade de gerar filhos. Estrógenos artificiais, de acordo com a médica Ana Soto da Universidade de Tufts, nos USA, aumentam ainda mais este risco. Enquanto isto, nos países industrializados, as mulheres adoecem duas vezes mais de câncer de mama do que há quarenta anos atrás. “Muitos produtos químicos sozinhos”, apurou a Dra. Soto em experiências de laboratório, “não aparecem em concentração suficiente para perturbar o equilíbrio hormonal. No entanto, seu efeito é cumulativo”.
                Um novo estudo feito com 14 mil mulheres norte-americanas confirmou sua suspeita. As mulheres testadas com concentrações mais elevadas de DDE adoeciam de câncer de mama com maior freqüência do que as menos contaminadas. O DDE é um produto com efeito estrogênico que vem da  decomposição do agrotóxico DDT, proibido nos países ocidentais, mas que ainda não está totalmente metabolizado na natureza.
                Outros pesquisadores permanecem céticos a respeito deste tema. “A pílula anticoncepcional” , objeta o especialista em hormônios da Universidade de Harvard, Karl Kelsey, “contém muito mais estrogênios do que os metabólitos dos PCBs e do DDT. No entanto não encontramos nenhuma relação entre tomar pílulas e o câncer de mama”. Sua colega Ana Soto concorda com ele. “Ainda há muitas questões não solucionadas” . Exige, entretanto, que os agrotóxicos sejam analisados não só quanto à sua toxicidade e seus efeitos de indução ao câncer. Quer que sejam avaliados quanto aos seus efeitos estrogênicos.
                No Departamento Federal de Saúde alemão todos estão tranqüilos. Wolfgang Link, do Departamento de Registro de Agrotóxicos alemão, diz: “Não teremos nenhum problema com estrógenos ambientais se os limites permissíveis para agrotóxicos não forem ultrapassados” . “No entanto com os produtos importados freqüentemente isto não acontece”, declara um colega de trabalho do Conselho Estadual de Pesquisa Química de Nordhein-Westfallen . “Com as alfaces da Holanda e da Bélgica, constantemente temos tido aborrecimentos” .
                Mas não são só as fábricas de produtos químicos e os órgãos reprodutores dos animais que produzem estrogênios. Os hormônios vegetais das flores femininas são muito parecidos com os hormônios sexuais humanos. Já foram identificados em mais de trezentas plantas. Na Austrália os pecuaristas sofreram grandes perdas com a presença de trevo entre as pastagens. As ovelhas ingeriam tantos hormônios desta planta que acabavam estéreis.
Se a suspeita se confirmar, de que os estrógenos vindos da comida e do ambiente prejudicam a fertilidade dos homens, os vegetarianos teriam uma desvantagem. Na urina deles se constatou dez vezes mais estrogênios vegetais do que na daqueles que comem carne.                                            
  Tradução livre de W.Leyden e adaptado por Luiz Jacques Saldanha, nov.2002.
 
 
 
Estrogênios poderiam explicar infertilidade masculina
   
Uma pesquisa científica revelou pela primeira vez que pequenas concentrações de estrogênios em plantas e produtos industrializados afetam o esperma, o que poderia ajudar a explicar as causas da infertilidade masculina.
Os estrogênios ambientais são encontrados na soja, em uma planta chamada lúpulo, em tintas, solventes, pesticidas, herbicidas e outros produtos industriais, enquanto os estrogênios naturais estão presentes no organismo.
Lynn Fraser, professora do Kings College, de Londres, declarou na terça-feira, em uma conferência sobre reprodução humana, que um estudo de laboratório com esperma de ratos revelou que o estrogênio estimula os espermatozóides e exerce um impacto sobre sua capacidade de fecundar um óvulo.
"Estimulam, mas não regulam", afirmou Fraser.
"Esse poderia ser um problema nas fêmeas porque, se um óvulo chega muito depois de os espermatozóides terem sido lançados no organismo, estes não poderão fecundá-lo", acrescentou.
Embora a pesquisa tenha sido realizada com ratos, Fraser e seus colegas acreditam que os estrogênios, os hormônios que desenvolvem e mantêm as características femininas, poderiam ter o mesmo impacto sobre o esperma humano.
Os cientistas suspeitam que a exposição ao estrogênio ambiental e um aumento da incidência de câncer testicular poderiam contribuir para a infertilidade masculina.
Fraser e sua equipe estudaram o impacto no esperma de ratos de três estrogênios ambientais e um natural.
Os estrogênios ambientais tiveram um impacto maior na capacidade do esperma de funcionar do que os naturais. Apesar de os estrogênios ambientais serem mil vezes menos potentes que o natural, do ponto de vista biológico, foram 100 vezes mais potentes no esperma.
"À primeira vista, esses resultados sugerem que os estrogênios, especialmente os encontrados no ambiente, poderiam ajudar na fertilidade. No entanto, as respostas que temos observado poderiam ter efeitos negativos com o tempo", disse Fraser no encontro da Sociedade Européia de Reprodução Humana e Embriologia, em Viena.
Os cientistas estudaram o impacto de cada composto individual, mas na vida real os espermatozóides estão expostos a muitas combinações de baixas concentrações de estrogênios.
"Essa é a primeira demonstração de que esses compostos têm um efeito direto na capacidade de fecundação dos espermatozóides. Ninguém fez isso antes. Significa que precisamos observar com maior cuidado a fim de saber se isso é bom ou ruim", comentou Fraser.
"Tudo que afeta o esperma terá um efeito sobre a fertilidade", acrescentou.
Quase um em cada seis casais em todo o mundo tem algum problema de infertilidade. Cerca de 40 por cento dos casos estão vinculados aos homens e 40 por cento às mulheres. A percentagem restante corresponde a questões conjuntas.
(Com informações da Reuters)
Fonte: CNN
 
Publicado em: 08/07/2002

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Anvisa faz apreensão de agrotóxicos adulterados

Valor, 27.11.2009

Arnaldo Galvão, de Brasília

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apreendeu 2,3 milhões de litros de agrotóxicos adulterados. A operação contou com agentes da Polícia Federal e ocorreu nesta semana na Nufarm Indústria Química e Famacêutica, em Maracanaú (CE). As multas podem chegar a R$ 1,5 milhão.

De acordo com a Anvisa, foram encontradas "inúmeras irregularidades" na importação, produção e comércio de agrotóxicos. Substâncias para reduzir o odor ou "perfumar" os produtos adulterados foram usadas. A Nufarm também foi autuada por oferecer, pela internet, produtos com classificações toxicológicas fora das especificações determinadas pela agência.

Foram interditadas as linhas de produção do agrotóxico Stron porque foi verificada alteração da fórmula sem autorização da Anvisa. O produto é proibido em vários países por sua alta toxicidade.

Quatro toneladas do agrotóxico Endossulfan também foram apreendidas porque as embalagens não tinham identificação do fabricante e as datas de fabricação e de validade. O ingrediente ativo desse produto está sob nova avaliação devido a efeitos nocivos à saúde.

A linha de produção e o estoque do Expurgran também foram interditados. Não havia análise do controle de impurezas do Malation, e os lotes do produto, preparado há quatro anos, estavam com validade vencida. Apesar disso, foi constatado reenvasamento e posterior comercializaçã o.

Alterações não autorizadas pela Anvisa ainda provocaram a interdição das linhas dos seguintes produtos: Rival 200 EC, Konazol, Adesil e os estoques do Glifosato 480 Agripec. Entre os componentes não autorizados estão substâncias para reduzir o odor ou "perfumar" esses agrotóxicos. A interdição é válida por 90 dias e, nesse prazo, fica proibida a comercializaçã o. A Nufarm terá cinco dias para apresentar contraprova.

O Valor procurou ouvir um representante da Nufarm na sede, em Maracanaú, e no escritório comercial, em São Paulo. Não foi possível um contato. A página da Nufarm na internet informa que a empresa atua em mais de cem países. São 14 fábricas, 20 escritórios e três mil empregos. A entrada no mercado brasileiro ocorreu com a compra da Agripec Química e Farmacêutica. Seus produtos destinam-se às culturas de citros, cana, café, milho, tomate, feijão, soja, algodão, batata e pastagens.

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Agrotóxico (veneno) contamina 40% das alfaces, tomates e morangos, diz Anvisa

23/04/2008 - 16h59

Agrotóxico contamina 40% das alfaces, tomates e morangos, diz Anvisa

da Agência Brasil
 
De cada dez pés de alface vendidos no Brasil, quatro estão contaminados por resíduos de agrotóxicos. É o que revela o relatório do Para (Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos), divulgado nesta quarta-feira (23) pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Das 1.198 amostras analisadas pela agência no ano passado, 207 apresentaram resultados insatisfatórios, ou seja, mais de 17% do total de alimentos continha resíduos de agrotóxicos não-autorizados ou acima do limite máximo permitido.
Os casos mais preocupantes são as culturas de morango (com 43,6% de contaminação), de tomate (com 44,7%) e de alface (com 40%).
Outros seis alimentos também foram analisados em 2007 e registraram resíduos irregulares de defensivos agrícolas: banana (4,3%), batata (1,36%), cenoura (9,9%), laranja (6%), maçã (2,9%) e mamão (17,2%). Foram usadas na análise amostras de 16 Estados de todas as regiões do país, além dos municípios de Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo.
Em 2008, segundo a Anvisa, o Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos vai acrescentar abacaxi, arroz, cebola, feijão, manga, pimentão, repolho e uva à lista de culturas agrícolas analisadas.
Entre as substâncias encontradas nos alimentos estão ingredientes ativos de diversos tipos de agrotóxicos, como endossulfam, acefato e metamidofós. Uma portaria da agência de fevereiro deste ano determinou a reavaliação toxicológica desses e de outros 11 ingredientes ativos.
 

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O veneno no pão nosso de cada dia

O veneno no pão nosso de cada dia: aproveitamos o título da reportagem da revista Caros Amigos deste mês (abaixo) para chamar atenção para a importância de sua manifestação nas consultas públicas sobre a reavaliação toxicológica  de agrotóxicos no Brasil.

Como o próprio nome diz, a consulta é pública, aberta a toda a sociedade, não sendo necessário formação específica, vínculo institucional ou qualquer outro requisito. Basta enviar para os contatos abaixo sua posição exigindo do Poder Público seu direito a alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos (algumas organizações já se manifestaram e seus documentos (links abaixo) podem ser aproveitados, se houver interesse).
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA está propondo o banimento ou a restrição severa de diversos agrotóxicos, baseados em estudos científicos que demonstram seus danos à saúde. É claro que os interesses econômicos em jogo são pesados, e muitos pressionam para impedir que a Agência atue em defesa da saúde da população.. Então, para que o interesse da sociedade prevaleça sobre o da indústria, é muito importante que os cidadãos e organizações manifestem apoio à reavaliação e ao banimento desses venenos.
IMPORTANTE: O prazo das manifestações às consultas públicas do endosulfan e do acefato se encerra dia 20 de dezembro.
Consulta Pública 90 – Fosmete: Inseticida que apresenta características neurotóxicas (danos ao sistema nervoso), sendo capaz de provocar a síndrome intermediária .
Consulta Pública 89 – Metamidofós: Inseticida proibido em diversos países. Apresenta características neurotóxicas, imunotóxicas e provoca toxicidade sobre o sistema endócrino (desregulação hormonal), reprodutor e desenvolvimento embriofetal .
Consulta Pública 88 – Triclorfom: Inseticida que apresenta características genotóxicas (alterações genéticas), imunotóxicas, teratogênicas, neurotóxicas, provocando hipoplasia cerebelar, provoca efeitos adversos sobre a reprodução e o sistema endócrino.
Consulta Pública 61 – Endossulfam: Acaricida proibido em diversos países. Apresenta características genotóxicas, neurotóxicas, danos ao sistema imunológico e provoca toxicidade endócrina ou alteração hormonal e toxicidade reprodutiva e malformações embriofetais.
Consulta Pública 60 – Acefato: Inseticida proibido em diversos países. Possui características genotóxicas, pode causar câncer e leva a distúrbios neuropsiquiátricos e cognitivos (dificuldades de aprendizagem) .
As manifestações devem ser encaminhadas por escrito para o seguinte endereço:
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, SIA, Trecho 5, Area Especial 57, Lote 200, Brasília, DF, CEP 71.205.050 ou Fax: (061)3462-5726 ou E-mail: toxicologia@ anvisa.gov. br
Manifestação do Idec: http://pratoslimpos .org.br/? p= 601
Manifestação da Terra de Direitos: http://tinyurl. com/ terradedireitos
As notas técnicas produzidas pela Anvisa estão na internet: http://tinyurl. com/anvisa
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O veneno no pão nosso de cada dia
http://carosamigos. terra.com. br/
Por Tatiana Merlino
O Brasil é líder mundial no uso de agrotóxico. As empresas transnacionais comemoram, enquanto o prejuízo fica para os trabalhadores rurais e os consumidores. Fotos Jesus Carlos
Do lado esquerdo da estrada de terra vermelha, uma cerca viva impede a visão da fazenda. Do lado direito, é diferente: é possível ver o pomar repleto de árvores de laranja, embora a maioria não dê mais frutos. A época da colheita já passou, foi em agosto. Estamos em outubro. Mais alguns metros percorridos de carro pela estrada da área rural do município de Lucianópolis, interior paulista, ouve-se um som vindo por detrás do pomar. Parece o ronco de um motor. Descemos do carro e cruzamos o limite da fazenda. O som se aproxima. Primeiro quarteirão, nada, segundo, terceiro, quarto. Lá pelo quinto quarteirão de árvores o barulho fica forte e avistamos o trator vermelho, pilotado por um homem que pulveriza um produto no laranjal. É Luiz Andrade de Souza, que trabalha e mora com a família na fazenda. Ele trabalha sem nenhum Equipamento de Proteção Individual – EPI, dispositivo exigido pela legislação do Ministério do Trabalho para a aplicação de defensivos agrícolas.
Luiz Andrade é uma vítima potencial de problemas de saúde decorrentes da manipulação dos agrotóxicos. De acordo com dados divulgados no começo de novembro pelo Censo Agropecuário 2006 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), houve, em 2006, pelo menos 25.008 casos de intoxicação de agricultores. Os dados também indicam que herbicidas, fungicidas e inseticidas foram usados em 1,396 milhão de fazendas.
A pesquisa mostra que mais de 1,5 milhão, das 5,2 milhões de propriedades rurais do país, utiliza agrotóxicos. E que 56% destas não recebem orientação técnica. A aplicação manual dos venenos, por meio do pulverizador costal – que é o equipamento que apresenta maior potencial de exposição aos agrotóxicos – é a mais utilizada, presente em 70,7% dos estabelecimentos agrícolas que fazem uso de algum tipo de defensivo. O Censo aponta também que 20% (296 mil) destas propriedades não utilizam proteção individual. O Rio Grande do Sul é o Estado que mais aplica agrotóxicos, com 273 mil propriedades.

Campeão mundial
Tal cenário é do país que, em 2008, foi “consagrado” com o título de campeão mundial de uso de agrotóxicos. Foram 673.862 toneladas de defensivos, o equivalente a cerca de 4 quilos por habitante. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria de Defesa Vegetal (Sindag), o faturamento da indústria química no ano passado no Brasil foi de US$ 7,125 bilhões, valor superior aos US$ 6,6 bilhões do mesmo setor dos Estados Unidos. Atreladas ao tamanho da área plantada, as maiores aplicações se deram nas culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão e cítricos.
De acordo com Gabriel Fernandes, da organização não governamental Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), tais números deveriam servir “como um grande sinal de alerta que indica a falência do modelo agrícola das monoculturas. Quanto mais veneno se usa, maior será o desequilíbrio ambiental. E quanto maior o desequilíbrio ambiental, mais veneno se usa”.
As consequências do uso dos agrotóxicos são inúmeras: coloca-se a saúde dos trabalhadores e consumidores em risco, e se contaminam o solo e a água. No caso da saúde dos trabalhadores, os riscos variam de acordo com tempo e dose da exposição a diferentes produtos. Assim, os efeitos podem ser agudos ou crônicos. O principal efeito agudo são intoxicações, dores de cabeça, alergias, náuseas e vômitos. “Dependendo do tempo de exposição, pode haver uma intoxicação aguda completamente reversível, mas também pode haver efeitos subagudos que deixarão lesões neurológicas periféricas que podem comprometer tanto a parte da sensibilidade quanto a parte motora”, explica a médica Raquel Rigotto, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).
De acordo com ela, os efeitos crônicos são mais difíceis de se identificar porque podem ser atribuídos a outros quadros clínicos, “mas vão desde infertilidade masculina, má formação congênita, abortamento precoce, recém-nascido com baixo peso, cânceres – especialmente os linfomas –, leucemias, doenças hepáticas crônicas, alterações do sistema imunológico, possibilidade de mutagênese – que é a indução de mudanças genéticas que vão resultar em processos de cânceres ou em filhos com má formação congênita –, problemas de pele e respiratórios, até praticamente todas as doenças neurológicas, tanto centrais quanto periféricas. É um amplo leque de patologias”, explica.
Dor de cabeça, olhos ardendo
Quem tem como rotina receber denúncias de trabalhadores reclamando de problemas de saúde decorrentes do manuseio de agrotóxicos é Abel Barreto, presidente do Sindicato dos Empregados Rurais de Duartina, cidade paulista localizada na região de Bauru. “Temos muita reclamação de gente que vai trabalhar na laranja e se sente mal. Eles ligam e dizem: ‘Estamos aqui trabalhando na laranja e o trator está na rua de cima passando veneno’. A maioria fala em dor de cabeça e ardor nos olhos”, relata.
Um dos casos que chegou ao sindicato de Duartina foi o das trabalhadoras Lindalva Zulian, de 38 anos, Rosimeire de Araujo, de 35, e Janaína Silva, de 25. As três trabalhavam numa fazenda de laranja no setor de inspeção, buscando localizar as plantas doentes para serem eliminadas.
Nascida em Duartina, Lindalva morou em São Paulo por muitos anos. Mas, nos últimos cinco, trabalhava em fazendas de laranja, alternando as funções de colheita e inspeção. O emprego, no entanto, rendeu-lhe problemas de saúde. Durante uma manhã do mês de junho deste ano, Lindalva e suas colegas faziam inspeção numa fazenda de laranja na cidade paulista de Espírito Santo do Turvo, quando o trator que aplica veneno passou pulverizando a mesma quadra onde as mulheres trabalhavam. “Eu comecei a ter tontura, dor de cabeça, ânsia de vomito. Comecei a chorar de tanta dor. As outras também começaram a vomitar”. Depois de muita insistência, o funcionário da fazenda atendeu o pedido de levar as mulheres ao hospital. “A dor de cabeça era demais, muita ânsia de vomito, o nariz e a boca queimavam por dentro. Falta de ar, não conseguíamos respirar. Na hora, o médico disse: ‘tira essa roupa, toma um banho, nem eu estou aguentando o cheiro de vocês’. A gente estava toda envenenada”. As mulheres ficaram três dias internadas, e, quando tiveram alta, foram dispensadas pela fazenda. “O médico falou que a gente tinha que fazer tratamento, que não podia voltar a trabalhar onde tinha veneno dentro de três meses”.
Desde então, Lindalva está sem trabalhar. “Não posso mais com o cheiro de veneno. Qualquer coisa já começa a me queimar o nariz, me dá tontura e a cabeça começa a doer. O médico disse que a gente pode ter sintoma dentro de vários anos, que pode aparecer algum tipo de doença porque fica tudo no sangue. A gente não sentiu só o cheiro, a gente inalou mesmo”.
Assim como Lindalva, Rosemeire também não voltou a trabalhar. “Não quero nem ver laranja”, diz. Já Janaína voltou para a colheita. “Não tem jeito, tenho que trabalhar. Mas até hoje eu sinto muita dor nos olhos. Nossa, quando eu forço a vista, dói para caramba”, diz, tentando segurar seu filho, que brinca com o gravador da reportagem.
Lista negra
Apesar de terem denunciado o caso, que está sendo investigado pelo Ministério Público, as mulheres estavam receosas de dar entrevista e serem perseguidas depois. “O medo é de entrar para a ‘lista negra’ das fazendas e nunca mais conseguirem emprego”, relata Abel Barreto, presidente do sindicato de Duartina. Segundo ele, a região é dominada por Cutrale, Coimbra, Citrosuco e Citrovita, as quatro maiores empresas do setor de citricultura. “Se você for nas fazendas dessas empresas, vai ver todo mundo com equipamento de proteção. O problema é que a precariedade está nas fazendas que fornecem laranja para elas. Essa é a maneira de se isentarem de ficar com o nome sujo”, alerta.
O sindicalista aponta que uma das dificuldades para sistematizar as denúncias de intoxicação por agrotóxicos ocorre porque, quando as empresas têm equipe médica na fazenda, “muitas vezes os profissionais escondem os exames dos trabalhadores, dão um atestado de um dia quando deviam dar de dois”, explica. “E mesmo alguns médicos da cidade cedem à pressão das fazendas e amenizam os problemas, argumentando com a gente que as empresas são responsáveis por milhares de empregos”, relata.
Estudos relacionados aos impactos do manuseio dos agrotóxicos por trabalhadores indicam que mesmo com a utilização dos equipamentos de proteção individual, a aplicação não é segura. “Além do EPI, há uma série de outras exigências que qualificam aquilo que se chama de ‘uso seguro de agrotóxicos’, mesmo que eu esteja falando isso com várias aspas de cada lado, porque eu não acredito nessa possibilidade” , explica Raquel. Um dos pré-requisitos é o respeito ao que se chama de “período de reentrada” após a aplicação do veneno, quando ninguém pode ingressar na área. “Para alguns venenos, o tempo é de três horas; para outros, são sete dias, isso varia. E quando a gente pergunta aos trabalhadores como se trabalha com esse período, que é uma exigência da legislação trabalhista, eles dizem que isso não é respeitado pelas empresas”.
Além disso, segundo a médica, a segurança dos equipamentos de proteção individual é muito relativa. “Eles são muito desconfortáveis e, quanto mais baratos, mais mal acabados. Incomodam, espetam, arranham. Nos climas quentes, são ainda mais difíceis de usar. É também muito complicado para as indústrias estabelecerem o ritmo correto da troca dos filtros das máscaras”, avalia. Outro problema recorrente é a absorção dos produtos pela pele: “O uniforme fica encharcado de agrotóxicos. E, em vez de ser levado para a casa do trabalhador e lavado junto com a roupa da família, como acontece muitas vezes, ele deveria ser lavado pela empresa. A família corre grandes riscos de ficar contaminada. Essa proposta do uso seguro é muito relativa”, alerta Raquel.
Exemplo dos limites do “uso seguro” dos agrotóxicos é o trabalhador Paulo Sérgio, morador de Duartina. Aos 37 anos, muitos de corte da cana e cinco de colheita de laranja, ele teve uma experiência complicada recentemente. Contratado pela empresa de laranja Coimbra para aplicar defensivos agrícolas, no terceiro dia de trabalho, ao aplicar o veneno Temic, Paulo passou mal. “Eu estava com todos os EPIs”. Mesmo assim, os equipamentos não impediram que o trabalhador sentisse muita ânsia de vômito, aumento da salivação e dor de cabeça. “Passei no médico e ele disse que eu estava intoxicado”, conta.
- Tatiana Merlino é jornalista
A reportagem completa está na edição de dezembro da revista Caros Amigos, que pode ser adquirida nas bancas de jornal ou pelo site da revista.

João Paulo Santana
Desenvolvimento Sustentávelcel: 41 8826 3526

" Seja a diferença que você quer ver no mundo"
 (Gandhi)
 
"A irracionalidade da nossa sociedade
reside em ela ser produto de uma vontade individual,
 o capitalismo,
 e não de uma vontade geral, unida e autoconsciente"
 (Horkheimer)

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